As transferências sempre são oportunidade de renovação para os próprios sacerdotes, mas também para as comunidades paroquiais, exigindo por vezes um espírito de sacrifício e obediência. É o Senhor, que por intermédio do Espírito Santo indica este caminho, iluminando e abençoando os irmãos na nova missão que lhes é confiada. “O Espírito da Verdade, ensinar-vos-á toda a verdade, porque não falará por si mesmo, mas dirá o que ouvir” (Cf. Jo 16, 13). Outro motivo que leva o sacerdote a acolher com amor a nova missão é o “desapego”, e isso é humano e bom, embora criam-se amizades fortes e importantes durante o tempo, curto ou longo, de permanência na paróquia, mas não se pode esquecer que o padre não é “seu” ou “nosso”, mas é da Igreja, da Arquidiocese e colaborador dos bispos. Isso não é arbitrário, é da natureza da vocação sacerdotal e episcopal.
O Direito Canônico fala de uma estabilidade ao pároco (seis anos e mais seis), mas isso não significa que não possa sair antes disso. Neste período, podem aparecer outras necessidades ou situações que leva o Conselho Presbiteral ou o Provincial e seu Conselho no caso de uma paróquia ser confiada a uma Congregação Religiosa, como é o caso da Paróquia Nossa Senhora da Candelária, que é confiada à Congregação dos padres do Sagrado Coração de Jesus, a repensar a presença dele ali. Os motivos não precisam ser trazidos à baila. São situações que ficam guardados no coração dos Bispos e dos provinciais. Os sacerdotes transferidos, o Arcebispo, os bispos auxiliares e ou Conselho e o provincial, não precisam expor as pessoas. Nem apresentar motivos para explicar o porquê das transferências. Não é necessário dar os motivos. Basta tê-los.
A justificativa de o padre ser bom e querido, ter pouco tempo ali, ter feito bons trabalhos, tudo isso é louvável, mas os critérios para as transferências deles são mais abrangentes. A vida paroquial é um leque de responsabilidades, competências e interlocuções. Ninguém é bom em tudo. Daí a necessidade de se avaliar a permanência ou não por critérios que ultrapassam o afetivo e o prático. A vida paroquial, sobretudo para os que estão sozinhos numa paróquia, sem vigários, exige múltipla atenção e variada atuação por parte do pároco. Aprender isso é um caminho. Nem sempre feito no lugar onde o padre se encontra no momento, ou seja, as constantes transferências sempre trazem novos conhecimentos aos sacerdotes e novas experiências para as paróquias.
A mudança sempre traz o bem a todos, ao padre e à comunidade. Isso abre horizontes para o repensar das relações, modos de servir e processos novos. Ninguém goza de estabilidade indefinida, nem os bispos. Essa consciência ajuda o clero a rever muitas posturas, manias e relações. Se um determinado sacerdote é dotado de muitas qualidades e competências a ponto de trazer grandes alegrias e avanços a uma comunidade, ele não pode ser possuído por esta comunidade como um “bem inalienável”. Outros lugares precisam dele e dos seus dons. Ele pode ser o pastor que a comunidade vizinha precisa em vista de suas demandas pastorais, espirituais, administrativas, humanas.
Padre Marcelo Alves dos Reis SCJ